Raquel Kochhann será porta-bandeira do Brasil na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024

De forma inédita, Rugby terá uma porta-bandeira em missões do Time Brasil

 

Primeira atleta brasileira a disputar os Jogos Olímpicos após se recuperar de um câncer, Raquel Kochhann foi escolhida porta-bandeira do Brasil na Cerimônia de Abertura de Paris 2024, marcada para esta sexta-feira, 26, às 19h30 (14h30 no horário de Brasília), no Rio Sena. O anúncio oficial foi realizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) na noite desta segunda, 22, e a atleta da seleção feminina de rugby sevens dividirá a honraria com Isaquias Queiroz, da canoagem.

“Essa sensação de levar a bandeira para o mundo inteiro ver em uma Cerimônia de Abertura é algo que não consigo explicar em palavras. Trabalhamos muito no Brasil para que o rugby cresça e ganhe seu espaço. Sabemos que a realidade do nosso esporte não é ter uma medalha de ouro por enquanto, apesar de termos esse sonho. Mas sempre vi que quem carrega essa bandeira tem uma história incrível e representa uma grande conquista”, celebra a camisa 10 da seleção brasileira de rugby sevens.

Aos 31 anos, Raquel encarou um ciclo olímpico dos mais complicados. Pouco antes dos Jogos de Tóquio, em 2021, observou um caroço na mama e chegou a se consultar com os médicos do Time Brasil durante a competição. Fez exames e, até então, nada de anormal foi detectado. Porém, menos de um ano depois, a jogadora recebeu duas péssimas notícias: a primeira é que havia rompido o ligamento cruzado anterior do joelho direito na última etapa do Circuito Mundial, em Toulouse (França); e a segunda é que o caroço havia dobrado de tamanho. Após realizar biópsia, foram detectadas células cancerígenas que já estavam, inclusive, em metástase no osso do esterno.

Raquel ficou praticamente dois anos afastada dos gramados, mas não parou de treinar durante o tratamento. Realizava exercícios adaptados e permanecia junto ao grupo para fortalecer o aspecto mental. Ao passar pela mastectomia bilateral, a jogadora precisou tomar outra decisão importante: não colocar próteses mamárias. Além de aumentar o tempo de recuperação, havia ainda o risco de rejeição à prótese, o que já havia ocorrido com a mãe, Vera, que enfrentou um câncer de mama quando Raquel tinha 15 anos.

“Nunca vi nada parecido na minha vida. A Raquel mostrou uma força incrível neste período, vinha treinar todos os dias mesmo durante o tratamento. E, quando não estava treinando, ajudava a equipe da forma que podia: filmando as atividades, levando água para as companheiras ou motivando a equipe. É um exemplo para todos nós”, afirma o treinador da seleção feminina, Will Broderick.

O retorno às competições ocorreu somente em dezembro de 2023, quando defendeu o Charrua Rugby Clube (RS) no Campeonato Brasileiro. Um mês depois, veio a notícia mais aguardada de todas: Raquel havia sido convocada pela seleção brasileira para disputar a terceira etapa do Circuito Mundial, em Perth (Austrália). A partir de então, a camisa 10 rapidamente voltou a ser peça-chave na equipe e, em junho, assegurou sua vaga em Paris 2024.

“A Raquel é uma inspiração para o Rugby e carrega consigo os valores do nosso esporte: disciplina, respeito, integridade, paixão e solidariedade. Todo jogador busca colocá-los em prática dentro e fora de campo. Durante a recuperação, a Raquel sempre se apoiou nestes valores, mostrando ser uma representante genuína da modalidade”, diz a CEO da Confederação Brasileira de Rugby, Mariana Miné.

O rugby sevens foi introduzido ao programa olímpico nos Jogos Rio 2016, e o Brasil esteve presente em todas as edições do torneio feminino. Raquel é uma das únicas duas atletas a atingir as três participações, assim como a capitã Luiza Campos. As Yaras, como é conhecida a seleção nacional, chegam a Paris após uma histórica campanha no Top 10 do Circuito Mundial.

O Brasil está no Grupo C dos Jogos Olímpicos e estreia contra a anfitriã França, no dia 28 de julho, às 17 horas (12h no horário de Brasília). Três horas mais tarde, é a vez de encarar os Estados Unidos. A seleção encerra sua participação na fase de grupos no dia 29, às 15h (10h de Brasília), contra o Japão. Caso termine nas duas primeiras posições da chave ou entre os dois melhores terceiros colocados de todos os grupos, a equipe avança às quartas de final. Todas as partidas serão realizadas no Stade de France.

 

Confira abaixo o currículo de Raquel:

Nome completo: Raquel Cristina Kochhann
Data de nascimento: 06/10/1992
Local de nascimento: Saudades (SC)

 

Principais conquistas na carreira:
. Bronze nos Jogos Pan-americanos Toronto 2015
. Ouro nos Jogos Sul-americanos Santiago 2014 e Cochabamba 2018
. Heptacampeã sul-americana de rugby (2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2021)
Mais informações:
. Integrou a seleção feminina de rugby XV que venceu a Colômbia por 34 a 13 e garantiu a classificação inédita do Brasil para a Copa do Mundo da modalidade, em 2025, na Inglaterra.
. Esta será a 1ª vez que uma seleção sul-americana disputará uma Copa do Mundo feminina de rugby XV.
. Raquel iniciou sua trajetória esportiva no futebol. Defendeu o Juventude (RS) a partir dos 15 anos e, em 2010, chegou a ser pré-convocada para a seleção brasileira sub-17. Porém, na ocasião, sofreu uma entorse no pé e acabou sendo cortada. A primeira experiência no rugby veio somente aos 19 anos.

 

Foto: Gaspar Nóbrega/COB