Valores do rugby são a marca de “A Sociedade da Neve”, sucesso do Netflix no início de 2024

Os valores do rugby de união, disciplina, solidariedade e respeito ajudam a explicar como integrantes de uma equipe uruguaia sobreviveram após a queda de um avião

 

O primeiro grande sucesso do Netflix em 2024 tem o rugby como protagonista. Indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro, o longa espanhol “A Sociedade da Neve” conta a história de um acidente aéreo ocorrido na Cordilheira dos Andes, em 1972, que levava 45 passageiros ao Chile, dentre os quais de um clube de rugby uruguaio, o Old Christians. À época, 16 jovens sobreviveram ao acidente e passaram mais de dois meses lutando pela sobrevivência, em condições extremas, enquanto aguardavam o resgate. No elenco de atores do filme inclusive está o jogador de rugby Agustín della Corte, que defendeu a seleção de rugby do Uruguai na Copa do Mundo da modalidade disputada em 2019.

Inspirador e comovente, o filme dirigido por Juan Antonio Bayona tem como principal mensagem os valores transmitidos pelo rugby. Enquanto nas cenas iniciais o time perde o campeonato após atitude individualista de um jogador, ao longo da trama o que salva a vida destes jovens é justamente a união e o sentimento de coletividade.

Para suportar o frio e melhorar a circulação sanguínea, os integrantes do grupo decidiram pelo contato físico intenso. Além de encarar temperaturas que chegavam a até -35ºC, eles tiveram na alimentação outra grande dificuldade. Após os mantimentos que estavam no avião acabarem, os jovens precisaram recorrer à carne das vítimas do acidente. Já para beber água, a neve era derretida.

“Quem pratica o rugby aprende desde cedo valores fundamentais que carregamos por toda a vida, como respeito, integridade, paixão, solidariedade e disciplina. A grande beleza desta história está justamente no caráter de cada um destes cidadãos. Eles foram determinados na busca pela sobrevivência, mas sem nunca deixarem de lado a dignidade”, comentou Emiliano Caffera, treinador uruguaio das seleções brasileiras. “Vários esportes são coletivos, mas no rugby esse aspecto se sobressai. Pela dinâmica do jogo, no qual o contato físico é constante, um atleta depende do outro para proteger a posse da bola e não deixar o companheiro sozinho. A bola só pode ser passada com as mãos para trás, o que exige que para mantê-la é preciso ação coletiva. Além disso, o rugby conta com todos os tipos físicos, do alto ao mais baixo, do mais rápido ao mais pesado, porque cada posição exige uma característica em benefício do coletivo. O filme inclusive mostra isso. Um depende do outro e não há heróis individuais”, complementou.

Tais valores do rugby já transpuseram os limites do esporte e são usados hoje inclusive no mundo corporativo. Um bom exemplo é nas metodologias ágeis, tais como o “Scrum”, que foi assim nomeada fazendo referência a uma formação do rugby. “No método Scrum, assim como na formação de recomeço de jogo no rugby scrum, as conquistas e falhas de um time são coletivas e não individuais. Cada integrante tem funções bem delegadas e específicas, o que dilui a necessidade de uma liderança formal, repartindo o compromisso entre todos”, lembrou a CEO da Confederação Brasileira de Rugby, Mariana Miné.

“A Sociedade da Neve” não é o primeiro grande filme que tem o rugby entre suas principais temáticas. Um dos grandes sucessos do cinema em 2009 foi o longa “Invictus”, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon, que retratou a conquista da Copa do Mundo de 1995 pela África do Sul, após o fim do apartheid.