Árbitras brasileiras continuam abrindo novos caminhos para o rugby
Natasha Olsen e Cristiana Futuro Mühlbauer representam o espírito do rugby feminino brasileiro. Mostram que há multiplas funções que podemos desempenhar dentro do esporte que amamos. Ontem eram jogadoras da seleção e hoje representam o Brasil como árbitras no quadro principal do rugby feminino na Sudamérica Rugby.
“Incluir Natasha e Cris no quadro de árbitras da SAR é uma grande oportunidade para mostrar que ex-jogadoras de seleção podem compartilhar suas experiências. Há vários anos, elas vêm desempenhando o trabalho de árbitras e com boas participações nos torneios. Será um prazer tê-las com gana, espírito e amor pelo jogo em nosso grupo”, disse Joaquín Montes, gerente de arbitragem regional.
Pioneiras
Cris Futuro Mühlbauer conheceu o rugby quando estava estudando na casa de um colega na época da escola. “Ele era um fanático por rugby e eu fiquei apaixonada pelo esporte instantaneamente. Alguns meses depois, o Niteroi Rugby iniciou com as primeiras equipes de rugby feminino e foi muito bom me juntar a eles”, disse a ex-jogadora, que teve seu primeiro contato com o esporte em 1996.
Natasha é cria do SPAC, clube no qual seu pai jogava futebol e seus tios rugby. Mas foi no Pasteur que ela se juntou a um time de rugby feminino. Quando o projeto terminou, ela levou o rugby feminino ao seu clube, em 1998.
Foram anos de diversão e descobrimento para elas. Uma na Baia da Guanabara com o Niteroi e outra na grandiosa São Paulo. As duas se conheciam por jogarem uma contra a outra em torneios e festivais de rugby, e então, juntas, fizeram parte da primeira seleção brasileira de rugby feminino.
“No primeiro torneio de Sevens Sul-Americano, que aconteceu em Barquisimeto, na Venezuela, em 2004, eu viajei como manager, mas quando descobrimos que a seleção poderia ter mais atletas no plantel, eu pude participar. Por sorte, havia levado minhas chuteiras”, relembra Natasha.
Olhando para a foto da matéria é possível perceber que 9 de 11 jogadoras estão ligadas ao rugby de alguma forma hoje em dia.
“O que vivemos foi muito forte”, disse Cris, que estava acompanhada de sua irmã mais nova Baby Futuro, ainda jogadora das Yaras depois de 16 anos.
Tanto Natasha quanto Cris foram peças fundamentais na estrutura brasileira que domina o rugby regional. As duas estiveram na primeira Copa do Mundo de 7s Feminina em Dubai no ano de 2009 e participaram de inúmeros torneios internacionais.
Pendurando as chuteiras
A primeira a deixar o rugby a nível de seleção foi Cris, quatro anos antes de Natasha, após as disputas em Dubai. Ainda jogou por seu clube em mais três temporadas e encontrou na arbitragem a melhor maneira de estar ligada ao esporte. Sua antiga colega de time tomou o mesmo rumo:
“Quando parei de jogar queria seguir no rugby e voltei a fazer os cursos de arbitragem. Era uma maneira de seguir em campo. Fico mais nervosa acompanhando o jogo do que quando jogava”, disse Natasha, que também é jornalista especializada em temáticas ambientais.
Cris, que trabalha como fisioterapeuta, hoje mora em Florianópolis. “Estive envolvida nos primeiros passos em tudo que diz respeito ao rugby feminino no Brasil. Jogar, treinar, apitar. Ser árbitra é uma maneira de continuar me divertindo e estar conectada com as meninas. Amo correr e estar próxima da ação e da energia que se encontra em um torneio. O rugby me deu muita coisa e devolver isso de alguma forma também me faz feliz”, disse.
As duas também já apitaram no mais alto nível do rugby XV masculino, além do rugby feminino.
O Futuro
O Covid-19 afetou muitos setores e em diferentes níveis. O rugby não escapou dessa realidade. Mesmo sem rugby e sem jogos, a Sudamerica Rugby e a World Rugby estão trabalhando com um grupo de 12 mulheres árbitras no quadro principal, com seis países representados, realizando reuniões quinzenais com Alhambra Nievas e Joaquín Montes para repassar aspectos técnicos.
“Participar do quatro de árbitros é um orgulho, é um lugar que me motiva a trabalhar e tenho aprendido muito, compartilhando com as demais garotas. É o melhor que temos aqui”, disse Natasha.
E Cris acrescenta: “Não esperava ser chamada, mas felizmente eles me convidaram. Estou muito, muito feliz. É um sonho se tornando realidade”.
Experimentando o jogo em seu mais alto nível regional e mundial dá a elas uma visão especial. “É mais fácil para entender o jogo e nos permite ter mais empatia com os jogadores e jogadoras”, disse Natasha com Cris concordando.
Duas pioneiras do rugby em seu país e na região que seguem abrindo portas.
Texto: World Rugby/Sudamerica Rugby