Programa Esporte Seguro

O Comitê Olímpico do Brasil buscando promover um ambiente esportivo seguro estruturou um estudo imersivo nos últimos anos que resultou na criação do Programa Esporte Seguro, uma ação em parceria com as entidades e organizações esportivas.

O propósito maior está em tornar o esporte um lugar seguro para todos, através de uma cultura de prevenção, reconhecimento, enfrentamento e adoção de boas práticas e para isso, o COB disponibilizou diversos conteúdos informativos e documentos para ajudar a construirmos uma cultura forte de respeito, de justiça e livre de violências.

A Confederação de Rugby se une ao propósito, junto do Comitê Olímpico brasileiro, para que juntos possamos tornar o Esporte cada vez mais um lugar de Solidariedade, Segurança e de Respeito.

Ansiedade e desempenho no esporte

Falar sobre ansiedade não é mais novidade atualmente, mas ainda sim se faz necessário levar essa discussão também para o âmbito esportivo.

A ansiedade está presente em nossas vidas desde os primórdios da humanidade, uma manifestação natural do nosso sistema nervoso que nos faz sentir vulneráveis e fora de controle, e com o avanço da civilização e do nosso estilo de vida, essa reação natural frente aos desafios tem sido cada vez mais acentuada.

Se formos pensar nos componentes que atuam diretamente no desempenho e rendimento esportivo, como: a pressão por resultados, cobrança, disciplina, metas, adaptação ao ambiente, construção de relações interpessoais profissionais e sociais, superação, entre outros, podemos afirmar que o próprio ambiente esportivo contribui para uma manifestação da ansiedade.

E esta relação pode ser positiva, mas principalmente negativa caso não seja cuidada.

É relevante ressaltar aqui que o/a atleta é um indivíduo biopsicossocial, em outras palavras, tudo aquilo que ele vive fora do ambiente esportivo é relevante na experiência como atleta, por exemplo: dificuldades financeiras, experiências traumáticas, mortes familiares, morar longe da rede familiar e assim por diante. Por isso, facilmente essas serão vivências significativas e fontes de ansiedade e estresse que impactam sua vida social e profissional.

Sendo assim, pensar em formas de cuidar e manejar a ansiedade, é pensar diretamente em como desenvolver e capacitar o/a atleta para gerenciar as suas emoções e capacidades cognitivas em prol do rendimento. Ou seja, a maneira em que conduzimos o ambiente de cobrança de performace, competitividade e desenvolvimento esportivo implica diretamente na saúde mental e física do atleta.

Por fim, é importante destacar que o manejo da ansiedade é para além daquela desenvolvida diretamente com o/a atleta, como ensiná-lo a lidar com os componentes naturais do ambiente esportivo, é também poder oferecer um ambiente mais seguro para se desenvolver e performar de forma integral.

 

Larissa Dourado, psicóloga do Esporte na Confederação de Rugby

Valores do Rugby: Respeito e integridade

É muito importante ressaltar que tais valores nos movem tanto dentro quanto fora das 4 linhas. Quando pensamos no ambiente esportivo, tais valores devem ser colocados em prática em cada ação e reação (seja no jogo ou fora dele).  Sendo o Rugby um esporte de contato, o Fair play se faz totalmente necessário principalmente quando falamos de respeito e integridade dentro das 4 linhas, afinal nossos valores são essenciais na formação de caráter de nossos (as) atletas.

O esporte precisa ser um espaço seguro para todos e todas. Questões de enfrentamento de assédio, abuso, racismo e violência precisam ser abordadas constantemente tanto dentro quanto fora do meio esportivo. Precisamos deixar os preconceitos de lado e falar sobre, sempre! Dentro do Rugby, o projeto Nina tem como pontos principais fomentar e trabalhar tais questões para que nossas atletas tenham consciência

de que o espaço seguro é algo primordial e essencial. “Igualdade, equidade, sororidade e irmandade” são os valores do Projeto Nina que surgem para somar os 5 valores do Rugby em si.

O Programa esporte seguro do COB segue uma linha que casa totalmente com os valores do Rugby e do Projeto Nina, visando tornar o esporte um lugar totalmente seguro para todas e todos contribuindo com uma cultura de prevenção, reconhecimento, enfrentamento e adoção de boas práticas esportivas. Que bom que muitos braços e muitas mãos juntas na massa são capazes de lutar por um mundo melhor.

Valéria Sapienza, Psicóloga Esportiva e coordenadora da região Sudeste do Projeto Nina. 

 

Mika Pitta, coordenadora da região Norte/Nordeste do Projeto Nina.

Racismo no esporte

O esporte no geral proporciona uma qualidade de vida saudável, social e auxilia na construção dos valores morais e éticos. No rugby enxergo isso, uma modalidade que exige muito da capacidade motora do ser humano, ensinando a ser uma pessoa melhor dentro e fora de campo através dos seus valores.
Ser um(a) esportista, vem com um peso de conquistas e resultados, além de representar todos aqueles que te apoiam e incentivam. Quando você se torna um atleta profissional de alto rendimento a responsabilidade vem em dobro, pois a visibilidade aumenta, para apoio e críticas. Quando você é um atleta negro, que vem de uma área menos favorecida (favela) e chega em uma elite esportiva que é o Alto Rendimento, está vulnerável a vivenciar e presenciar muitas experiências sejam elas positivas ou negativas. E uma dessas experiências negativas destacamos o racismo no esporte, onde torcedores, colegas de equipe, jogadores adversários podem agir de maneira racista. Por vezes não podemos ser quem realmente gostaríamos, no falar, vestir, o modo de ser, sem receber uma ofensa, discriminação, um olhar discriminatório…
As ações de ódio incentivadas pelo preconceito racial implícitas na sociedade, muitas vezes são naturalizadas e em tempos não deveriam mais existir. Uma pessoa negra, não é uma pessoa NEGRA, ela é apenas uma pessoa, como são pessoas brancas. Historicamente a diferenciação racial deveria ter ficado no passado, e nunca ter acontecido, mas já que houve deveria ter acabado no marco histórico, após a abolição da escravidão.
Atitudes criminais, seja ela verbais, como chamar atletas de “macaco” ou ações agressivas, gesticulares, como atirar bananas para dentro do local da competição na direção dos atletas negros, imitar um macaco, são ações criminais e racistas, previstas em lei como CRIME, que devem ser eliminadas da sociedade e em casos identificados, quem o fez, deve ser punido.
O Brasil ainda é um país muito racista, mesmo a maioria da sua população sendo negra (pardos e pretos).
No mundo esportivo onde o/a atleta negro se destaca naturalmente, ações racistas ainda acontecem e por muitas vezes são aturadas. Se paramos para estudar a genética preta, é comprovado que possuem uma proporção maior de células muscular de contração rápida, aquelas que ajudam na velocidade, potência e explosão. Resumindo tudo, a raça que oprime, julga, condena que se acha a melhor por ser branca, acaba sendo inferior em algumas modalidades esportivas. Nomes como Michael Jordan, Pelé, Muhamad Ali, Usain Bolt, Lebron James, Vinicius Júnior, Alison Santos e outros, querendo ou não todos eles são pretos, uma raça categorizada inferior para aquelas pessoas que acham que podem praticar o racismo. Ultimamente em algumas competições, alguns atletas têm se posicionado na luta contra o racismo, frases como “vidas negras importam”, tem causado bastante impacto positivo na luta contra o racismo. Infelizmente não são todos que apoiam essa luta ou mesmo se incomodam com a prática criminosa.
O Rugby possui seus valores, qual consideramos intrinsicamente, que não cabe RACISMO. É uma modalidade bastante inclusiva, onde diferentes corpos, gêneros, cor, raça, etnias, credos se encontram, convivem e se respeitam. Onde você não precisa ter um perfil específico para praticar, apenas disposição, disciplina e respeito ao próximo, pois é isso que o RUGBY nos ensina.
Eshyllen Coimbra , 22 anos, atleta da seleção Brasileira e do clube ElShaddai, preta, estudante de jornalismo da Comunidade dos Tabajaras – Rio de Janeiro

Vamos falar de abuso e assédio no esporte?

Infelizmente nem mesmo o ecossistema esportivo está isento de atos relacionados a assédio/ou abuso, por isso é extremamente importante trabalharmos assuntos como esses para que através da informação seja possível criar uma cultura de autoconsciência e, por consequência, tornar nosso esporte um lugar seguro. Vamos entender os conceitos que estão em jogo.

 

Assédio moral

O assédio moral é a exposição repetitiva e prolongada de pessoas a humilhações e constrangimentos que ofendem a dignidade e comprometendo o bem-estar psicológico.

Menosprezo, ridicularização, inferiorização são exemplos de assédio moral no contexto geral.

No esporte, ambientes com estruturas hierárquicas entre treinadores e atletas, alta taxa de cobrança em relação ao desempenho, alta competitividade e ausência de regulamentação e orientação tendem a propiciar o assédio, que por vezes é considerado como discurso de fortalecimento, incentivo e melhoria de desempenho. É preciso ficar atento ao modo de conduta da cobrança, de preferência com uma linguagem adequada, importante manter uma comunicação não violenta.

Estamos falando sobre hierarquia, mas existe também assédio moral de atletas para atletas, disfarçado de “brincadeiras” ou rito de iniciação no esporte.

Os efeitos oriundos do assédio na vítima é sobretudo uma desestabilização de sua relação com a prática esportiva. Além disso a equipe a qual faz parte também é impactada tendo comportamentos de desmotivação, baixo desempenho, revolta e em alguns casos, reprodução das más condutas do assediador.

 

Assédio sexual

O Assédio sexual é um conjunto de comportamentos de conduta indesejável, inconveniente ou forçada, de forma verbal ou física, com base no abuso de poder ou da confiança com fins de vantagem ou favorecimento sexuais. Ele acontece por meio de comentários, trocadilhos e insinuações desagradáveis de caráter sexual, elogios intencionais…

Para se configurar assédio é necessário que haja uma hierarquia, podendo ser vertical ou horizontal. No esporte por exemplo, pode ocorrer entre um treinador ou árbitro e um atleta, mas também entre pessoas da mesma equipe.

Contatos físicos desagradáveis e desnecessários, piadas sobre aparências, compartilhamento de fotos sensuais ou de nudez e comentários constrangedores são exemplos de assédio sexual. Atitudes como essas evoca na vítima um extremo constrangimento e insegurança profissional por medo de perder a posição em que se encontra na equipe.

 

Abuso sexual

Abuso sexual é o ato de violação sexual, de forma verbal ou física sem consentimento da outra parte. Seja porque o consentimento não pode ser dado, seja porque é obtido de modo agressivo e ameaçador. Conversas sobre atividades sexuais, exibicionismo, tentativas de relações sexuais são exemplos.

No esporte esses comportamentos podem acontecem em uma hierarquia vertical ou mesmo horizontal.

A título de exemplo, aquele beijo forçado em que é empregado violência física a fim de obtê-lo, quando a outra pessoa diz NÃO, trata-se de crime de Estupro, previsto no art. 213-A do Código Penal, pois o beijo aplicado de modo lascivo ou com fim erótico é considerado um ato libidinoso (ato de natureza sexual, diverso da conjunção carnal) e com certeza houve o emprego de violência física.

Situações como essas interferem na vida do esportista comprometendo diversas dimensões de sua vida, desde a relação com o esporte em si e seu desempenho, sua identidade e dignidade e suas relações afetivas e sociais. Ou seja, condutas negativas como essas podem facilmente causar danos graves a saúde física e psicológica, além de impactar na construção de carreira da pessoa. Infelizmente, muitos casos acabam por ser velados, sobretudo em categorias de base, porque a diferença entre as idades propicia ainda mais para que ocorra assédio ou abuso. Uma prova disso são inúmeros profissionais ao redor do mundo que vieram a público após anos, alegar que foram vítimas dentro do ambiente esportivo durante a infância e adolescência.

A Confederação Brasileira de Rugby não compactua com atitudes como essas, trabalhamos ativamente em prol do crescimento da modalidade em todo país e com ela a construção de um ambiente de acolhimento e de proteção, com respeito, integridade e solidariedade. Repudiamos veemente qualquer tipo de violência moral, física ou psicológica dentro e fora do campo.

Uma das ações que a Confederação realiza se chama Projeto Nina, que além de fomentar o Rugby feminino, busca, através de um trabalho de conscientização, orientar os clubes a criar um espaço seguro não apenas para as meninas, mas para todas as pessoas dentro do ecossistema do Rugby.

Se você identificou algum caso de assédio ou abuso dentro da entidade, não hesite, denuncie para nossa ouvidoria (ouvidoria@brasilrugby.com.br).

Note que muitos destes casos podem ser considerados crimes, desta forma, recomendamos que além da realização da denúncia, também  seja aberto boletim de ocorrência em delegacia de polícia.

Queremos aqui deixar nosso apoio e acolhimento a todas as vítimas de casos dessas categorias e incentivar a denúncia e a buscar assistência e amparo psicológico. Você não está sozinha ou sozinho!

E você, Rugbier, que deseja se aprofundar mais no assunto abordado acima e tomar uma postura mais ativa nesta luta, queremos te convidar a realizar o curso do COB “Prevenção e enfrentamento do Assédio e Abuso no Esporte”.

Por fim, convocamos toda a Comunidade do Rugby para  se juntar a Confederação nessa missão de tornar o nosso Rugby um esporte seguro para todos.

 

Luanna Costa, estagiária de Recursos Humanos da Confederação de Rugby e Silvia Pires, assistente Social da Confederação de Rugby.